81 cm. x 59 cm.
NATAL 2006
Poupava verniz ,
louco da minha tolice ,
pintava divertido ,
contagiado , fazia saltar
um atelier de cores ,
de lagartos comia
a cola que se mexe ;
agora , em tempo de trevas ,
habitam aí gatos de porcelana , espreguiçados ,
papões apagam a luz
no subterrâneo
onde casamentos e enterros ,
por indolência ou sono , acontecem na penumbra ,
fora da vista e
da memoria .
Pálidos e magros ,
estira os braços , alongados
a crepitar madeiras ,
um menino espúrio ;
a lembrança perdeu ,
a mãe se foi no nevoeiro ;
não tem mais de um mês ,
de força leva-se avante ,
é só dele o fio de lã
que como milagre
adorna-se de girasoles , grandes
alegres e açucarados .
De sorrir incrédulo
o mundo acolhe ,
da variedade acomoda o circo grosso ,
a sorte dos pobres
não procura ,
bilhetes da rifa são fado pesado
que aceita com agrado ;
é o sopro da primavera na terra
a trazer germe de grão ;
sopa de arroz
cai como granizo ,
não é desgraça ,
será a refeição do homem alto ,
a imitar granito .
Dorme rosnando ,
recompensa do diabo a voz mole ,
no painel vivo de granada
simpatias cor de rosas
têm cultivadas ;
no chão a sua cama
leva rodas de carro ,
navega a corrente como
tábua de choco ;
Semente de uvas que solta vinho ,
engordará ,
defenderá uma ideia
parado e firme , como arvore
as pedras assentará ;
escultor duma armada ,
ao povo assassino
de olhos esquecidos se mostrará ,
a ordem branda
um pontapé nos dentes ,
de cabeças partirá à caça ,
o mato do caminho arrancará
e , de pele de tigre despido ,
desobediente ,
o monte das privacões
alcançará .
(Carlo Maria Brazzola )
